segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Repetição

Se tudo já foi dito
Medido e escrito,
Como digo o que sinto?
Com um verso repetido.

Se toda poesia já foi lida,
Toda estrofe vivida,
É certo pois, que eu insista
“Pois que tu és já toda a minha vida”.

Eu vou

Vou descalço
Nua,
Caminhar nas ruas
Da lua
Deitar no chão
Do sol
Dormir calma
Com o leão
Sem facão
Eu vou...

Vou cega
Na escuridão
de uma paixão.
Ficar em órbita
sem corda.
Tocar um rock
em um violão
sem afinação
eu vou...

O Trovador

Ouçam todos a trova que me é dada
Eis na minha janela o mais belo trovador
Proferindo palavras em canto e encanto,
Deixando harmonia paixão e dor

Somente nesta noite terei seus versos
Pois tu és um trovador de uma noite só
Tu tens em cada rua uma amada
E em cada amada, encanto, canto e amor

Por que querer-te, belo trovador,
Se sei que tu tens muitas amadas
Que te esperam e te amam da janela?

Deve ser meu coração um verso,
Branco, rimado, às vezes livre
E o verso, seu trovador sempre espera!  

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Para o amor que não vem

Na clausura a inspiração é certa,
Na tristeza, rios de versos correm
Sonhos, fantasias e loucas vontades,
Na pausa do desejo morrem.

Se cai uma tarde solitária,
É por que nela tu não estavas.
Me entristece a falta tua,
Mas, teu não querer é o que devasta.

A enclausurada tarde se esvai,
E com ela este sublime momento.
Se, porventura faltares na próxima
Verás meu poemático pensamento.

Se porventura tu tomares de mim
A mais breve tarde enclausurada,
De certo, a solidão manhã será,
E nenhum livro comporá a tua amada.

Inspiração distante

Nasce a minha poesia
Do teu abandonar-me
Do teu fazer-me triste

Palavras surgem
Do meu rastejar
Do meu mendigar

Morre o meu amor, então
No meu despertar sereno
No teu desprezar que insiste.

Asfalto

Cada buraco na estrada
É uma curva no caminho,
Um amor que se vai
É uma cruz que se leva
Na reta, um ser sozinho

Cada olhar desviado
Leva um tanque de vidas
Na contra mão sem volta
No final dessa linha,
No começo da partida.

Onde o asfalto começa
Uma vida termina.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Trinitrotolueno

Sipi! Quiero! Torpedos de madrugada,
No alvo da vontade já incinerante,
Ouvir o que somente você vê
O estrondo de um sorriso apaixonante

Vive o meu ser no conter de um disparo
E teme até o imaginar da explosão.
Pois queima, ferve e ainda assim gela
Tua mensagem trinitrotolueno de ilusão.

Covas no sorriso, olhos em fogo sonham
Com armas que eu poderia não ter, não ser
Deserta o coração, a mente, o sol já vem
Revelando disparos que acertaram eu e você

sábado, 30 de outubro de 2010

Cancioneiro

Canção da noite Solitária
Fernanda Keal

Eras tu quem eu procurava
Na noite fria que me velava
E solidão que andava comigo
Por muitas vezes foi o meu abrigo

Cada caminho por onde eu passei
Muita tristeza eu encontrei
E a ilusão que estava sempre lá
Ao meu lado pôs-se a caminhar

A incerteza e a escuridão
Dominavam o meu coração
A alegria o que é não sei
Mas eu vou saber, pois eu te encontrei

Ajeita teu colo que eu já estou indo
Ao nosso encontro, ao amor, ao infinito
Vou resvalar nos teus braços pensar com você
Vou caminhar nos teus passos com todo prazer

De agora em diante eu serei feliz
Sempre ao teu lado como o destino quis
Eu te prometo o calor no inverno
A felicidade e o meu amor eterno.

Eu existo

Eu existo para você
Fernanda Keal

Você sempre me deixa pra depois
Como aqueles velhos livros na estante
Que você pensa um dia em precisar
Mas deixa lá esquecidos

Não quer me amar, não quer nem se acostumar
Nem saber que me tem a todo instante
A ainda pensa em não me magoar
Você nada decide

Dono do Todo

Dono do todo
Fernanda Keal


O sol não brilha pra você
O teu brilho é intenso

O mar não te cabe
O teu ser é imenso

O céu não te abarca
Seu todo é infinito

Mas meu eu te toca
Pelo amor que é contigo.

Rastros

Rastros inapagáveis
Fernanda Keal

Surge como desaparece
Chega com um adeus
E Com um beijo de ilusão

Conquista com as rosas do esquecimento
Fecho a porta, então.
Tranco a casa, destruo a rua.
Mas os rastros no coração?

A cidade muda de mim
E eu mudo de faces para ver um fim.

Então abro a porta
Destranco a casa e restauro a rua
Livre de rastros, de coração e de mim.

Voz de Lua Minguante

Voz de lua minguante


Fernanda Keal


Ao sabor da noite
À voz da lua minguante
Resvalo, sem som, sem luz

Chamo a lua, ela vem
Impero as estrelas, elas obedecem
Controlo o amor, ele foge

O que me toca não sente a pele
O que ouve o coração sem luz
É uma voz de lua minguante

A luz é da lua, a voz é a tua
Vejo e ouço na noite tardia
Sem voz, sem som, sem melodia.

Eu dinvindade

Eu divindade

Fernanda Keal


Endeusa-me com um fio de olhar,
Adora-me sob o meu manto!
Teus braços: andor, seguindo...
Ao altar de espumas branco

Tens-me com devoção
Tu que de mim fazes divindade.
Estátua sem rosas, fitas e velas
Viva de humana vontade.

Louva-me com preces de desejos,
Toca-me com rezas e calor
Ocupas tu, comigo, o meu altar
E sutilmente, Afrodite eu que sou.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Impossível, possível, desimpossivel
Fernanda Keal



Ainda que eu pudesse dés-pensar-te
Se o fim, em mim, chegasse
Eu não o faria.
Socorrendo-me a dor mais furiosa
E se assim me tocasse
Eu não sentiria

És para mim, assim imensurável
Tanto quanto, o tempo que tem
Uma gota d’água que existe
Em seu ciclo eterno
Em tempos se eleva ao alto pra cair
Serve a quem deve servir
E recomeça no inverno

Então des-pensar-te
Como desatar e outros des
De não pensar
Seria tão impossível
Como o desimpossivel.





Aurulha
Fernanda Keal




Coração que ama não bate. Jamais!
Estou certa que o amor foi um projeto de paz
Criado por medievais
Vivido por meus ancestrais
E hoje não existe mais

A roda arruinou a pureza da terra
Uma mão de mente veio inventar a guerra
Com coração de paz mera
Pelo bem o homem não gera
Pede perdão e vai à peca

Nunca lhes contei qual foi o meu segredo
Nem quanto eu ganhava
Varrendo o meu terreiro e circulando todo o beco
É que nasci debaixo do arvoredo
Na guerra dos medievais
Na paz, no amor, no medo.





Eu sou tudo
Fernanda Keal



Eu sou um sol
Que brilha após o anoitecer

Eu sou um dia
Capaz de passar e retroceder

Eu sou o número final
Eu posso existir sem nascer

Sou água do mar adocicada
Eu sou pensamento que se pode ver

Eu toco as nuvens lá no céu
Coisa que não pode ser

Se eu deixar acontecer
Eu vou brilhar após anoitecer

Se eu deixar acontecer
O dia vai parar pra eu viver






Entre as Rosas
Fernanda Keal


Quando teu olhar me percebeu
Entre muitas rosas: eu
Era como o orvalho ao cair no chão

Quando você se aproximou de mim
Entre as rosas do jardim
Era como o vento a fugir da solidão

Quanto teu beijo me tocou
Como as rosas se tocam
O sol brilhou em mim e então eu fui feliz

Quando seu amor me transformou
Na mais bela das rosas
Ser rosa não importa, só a emoção

Entre as rosas, agora, o que sou
Orvalho e brisa com amor
Entre as rosas, agora o que sou
Perfume de todo amor.





Trapaça
Fernanda keal



Debaixo da arvore não se vê o sol
De trás do muro não se vê quem passa
A luz que quase escura brilha é um farol
Iluminando um mar de ódio que devasta
E o meu coração é uma nuvem

Penso que nem toda sombra é ruim
Mas todo muro esconde uma trapaça
Que do começo nem sempre se vê o fim
Mas cada um se faz de tudo e nada
E o meu coração pode descobrir

Olhe as nuvens, são tão frágeis
Mas encobrem o brilho forte do sol
Somos nuvens, algodoes frágeis
Um vento qualquer guia todos nós

Mas nunca espere cair do céu
Os seus desejos aqui da terra
Olhar as nuvens é querer sempre ser
A paz no meio da guerra







Inocência
Fernanda Keal


Quando eu era menor que o armário
Eu pensava que o céu fosse no fundo do quintal
E brincar de casinha, debaixo dos panos
Com uns bons amigos não fizesse mal

Hoje eu passei do armário
Moro embaixo do céu, no fundo do quintal
Vivo de casinha, ao lado do sonho
Com filhos e filhas, e quem me fez o mal?