sábado, 23 de janeiro de 2010

Impossível, possível, desimpossivel
Fernanda Keal



Ainda que eu pudesse dés-pensar-te
Se o fim, em mim, chegasse
Eu não o faria.
Socorrendo-me a dor mais furiosa
E se assim me tocasse
Eu não sentiria

És para mim, assim imensurável
Tanto quanto, o tempo que tem
Uma gota d’água que existe
Em seu ciclo eterno
Em tempos se eleva ao alto pra cair
Serve a quem deve servir
E recomeça no inverno

Então des-pensar-te
Como desatar e outros des
De não pensar
Seria tão impossível
Como o desimpossivel.





Aurulha
Fernanda Keal




Coração que ama não bate. Jamais!
Estou certa que o amor foi um projeto de paz
Criado por medievais
Vivido por meus ancestrais
E hoje não existe mais

A roda arruinou a pureza da terra
Uma mão de mente veio inventar a guerra
Com coração de paz mera
Pelo bem o homem não gera
Pede perdão e vai à peca

Nunca lhes contei qual foi o meu segredo
Nem quanto eu ganhava
Varrendo o meu terreiro e circulando todo o beco
É que nasci debaixo do arvoredo
Na guerra dos medievais
Na paz, no amor, no medo.





Eu sou tudo
Fernanda Keal



Eu sou um sol
Que brilha após o anoitecer

Eu sou um dia
Capaz de passar e retroceder

Eu sou o número final
Eu posso existir sem nascer

Sou água do mar adocicada
Eu sou pensamento que se pode ver

Eu toco as nuvens lá no céu
Coisa que não pode ser

Se eu deixar acontecer
Eu vou brilhar após anoitecer

Se eu deixar acontecer
O dia vai parar pra eu viver






Entre as Rosas
Fernanda Keal


Quando teu olhar me percebeu
Entre muitas rosas: eu
Era como o orvalho ao cair no chão

Quando você se aproximou de mim
Entre as rosas do jardim
Era como o vento a fugir da solidão

Quanto teu beijo me tocou
Como as rosas se tocam
O sol brilhou em mim e então eu fui feliz

Quando seu amor me transformou
Na mais bela das rosas
Ser rosa não importa, só a emoção

Entre as rosas, agora, o que sou
Orvalho e brisa com amor
Entre as rosas, agora o que sou
Perfume de todo amor.





Trapaça
Fernanda keal



Debaixo da arvore não se vê o sol
De trás do muro não se vê quem passa
A luz que quase escura brilha é um farol
Iluminando um mar de ódio que devasta
E o meu coração é uma nuvem

Penso que nem toda sombra é ruim
Mas todo muro esconde uma trapaça
Que do começo nem sempre se vê o fim
Mas cada um se faz de tudo e nada
E o meu coração pode descobrir

Olhe as nuvens, são tão frágeis
Mas encobrem o brilho forte do sol
Somos nuvens, algodoes frágeis
Um vento qualquer guia todos nós

Mas nunca espere cair do céu
Os seus desejos aqui da terra
Olhar as nuvens é querer sempre ser
A paz no meio da guerra







Inocência
Fernanda Keal


Quando eu era menor que o armário
Eu pensava que o céu fosse no fundo do quintal
E brincar de casinha, debaixo dos panos
Com uns bons amigos não fizesse mal

Hoje eu passei do armário
Moro embaixo do céu, no fundo do quintal
Vivo de casinha, ao lado do sonho
Com filhos e filhas, e quem me fez o mal?

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